quarta-feira, maio 07, 2014

Seri'ously #14 - Adeus, Idol

O fim é sempre algo meio trágico, meio desolador, meio avassalador. O fim em baixa, depois de tanta glória, é ainda mais desesperador. Um fenômeno ser largado ao relento é mais doloroso ainda depois de acompanhá-lo, de ver toda sua ascensão e, de repente, ver um declínio óbvio de desgaste e saturação.

Nunca imaginei que eu presenciaria, de perto e com meus próprios olhos, a que fim um dos maiores programas que já existiram no planeta tinha alcançado. É com pesar que, depois de tanta resistência, anunciar que, enfim, estou dando meu adeus ao American Idol.

Você que nunca tenha acompanhado de forma tão presente ao programa pode parecer que o meu adeus ao programa seja indiferente, mas não é. O American Idol foi como uma escola com bons músicos pra mim. Aprendi tanto com este programa a refinar parte do que eu acreditava na música que não sei nem mensurar o quanto sua ausência será sentida.

Para alguns, o Idol acabou há anos, com a saída de Simon Cowell e Paula Abdul, que davam vida ao painel de jurados mais divertido da televisão americana (sim, digo da televisão americana, porque o próprio Cowell montou um painel superior no The X Factor britânico, que está prestes a retornar), mas estes perderam, possivelmente, a temporada com a maior quantidade de gente talentosa, uma temporada que a gente revirava os olhos para a bancada e apreciava aos músicos.

Pros mais saudosistas que ainda se lembram quando Kelly Clarkson dominava, semana após semana, com um carisma impressionante, a primeira temporada, sabe do gigantismo e representatividade do Idol. Eu ainda reviro os olhos para aquela segunda temporada. Me lembro com muito amor daquela terceira temporada - que, talvez, tenha a final mais difícil da história do programa, ganha pela Fantasia Barrino. Não gosto da quarta temporada, ainda que dela tivéssemos a excelente e talentosa (e incrivelmente gostosa, registra-se) Carrie Underwood. Torço o nariz para a quinta temporada, com uma final de cantores medianos, desde Katherine McPhee ao Taylor Hicks, mas com gente talentosa como Chris Daughtry e Kellie Pickler. Tenho um espaço para a ganhadora Jordin Sparks, na sexta temporada, onde passei raiva com Sanjaya. A sétima e minha temporada preferida, com a final dos Davids, Cook e Archuleta, que ainda trazia cantores incríveis como Syesha Mercado, por exemplo, e semanas incrivelmente competitivas. Aquela oitava temporada que deu o título ao insosso Kris Allen, quando tínhamos o talento de Adam Lambert e Allison Iraheta. A nona e pior temporada, salva pela Crystal Bowersox, talvez. A décima temporada, já sem Cowell e Abdul, das eliminações chocantes de Pia Toscano, Casey Abrams e James Durbin, e com performances sensacionais de Haley Reinhart, embora a final tenha sido aquele cocô com Scotty McCreery e Lauren Alaina. A décima primeira temporada não só deu um dos maiores fenômenos de venda do programa, o vencedor Phillip Phillips, mas também nos brindou com noites espetaculares a partir do Top 7. Não havia uma performance ruim. Mas o programa já estava cansado ali, com temas repetitivos e preguiçosos do time então liderado por Nigel Lythgoe. E daí veio o fiasco da décima segunda temporada. O desastre do pior painel de jurados da história. Dos embates ridículos de ego entre Mariah Carey e Nicki Minaj. Embora a temporada tivesse o talento de Candice Glover, a delicadeza de Kree Harrison, o poder de Angie Miller, a doçura de Amber Holcomb e a energia de Janelle Arthur.

O programa sempre deu motivos para gostar dele ou deixá-lo. Como qualquer outro reality show, há pontos de controvérsia quanto aos resultados. É normal. Mas sua estrela foi se apagando e, então, chegou a décima terceira e atual temporada do programa.


Uma temporada promissora, que apostava na força do painel de maior química que já passou pelo Idol, com a sinceridade inicial de Harry Conick, Jr, o retorno de Jennifer Lopez e a manutenção da luz da temporada anterior, Keith Urban. Uma temporada que apostava no talento dos jovens para tentar se restabelecer. Uma nova equipe de produção. Novos temas latentes. E uma queda meteórica.

Uma queda que começa a partir do Top 40, quando impossibilita que nomes talentosos como Austin Wolfe, Brandy Neelly, Maurice Townsend, Kenzie Hall e, até mesmo, Jillian Jensen (The X Factor USA 2 - aquela do chororô eterno na casa da Demi Lovato) de sequer cantarem para serem cortados por um facão, só pelo shock-value.

Falando em shock-value, o desastre do maior twist da história do programa, feito apenas pra mostrar o quão desesperado estava a equipe de produção do programa, levar seus participantes para um hangar e enfiá-los em ônibus diferentes: um pro hotel da Hollywood Week, outro de volta para o aeroporto.

E daí vieram os temas... Temas pra quê? Acho que esta era a ideia de Per Blankers e sua equipe. Os temas são tão vazios e tão abertos que não exigem que seus participantes busquem fugir da rotina, ficar preso realmente ao tema. Não, isso eles não fizeram, dão temas como "músicas que já tocaram em filmes, não importando sequer se estava na trilha sonora" ou "músicas avulsas que tenham uma referência bizarra que façam você se lembrar de sua casa".

Mas isto é o menos pior. Acredite. O problema é quando vemos os finalistas. O que diabos aconteceu com os finalistas? Gente que tinha demonstrado tanto talento nas fases anteriores conseguindo ser piores até do que a primeira temporada do The X Factor USA. Gente que faz das performances de Sanjaya algo tolerável? Desculpe, não sou obrigado.

Alguém me explica, por exemplo, como aquela menina que, no primeiro dia de audições, na primeira cena, olhou direto à câmera disse "eu sou Majesty Rose e eu sou a nova American Idol"? Majesty, de performances sensacionais, à sequência de performances horríveis, como "Let It Go". Majesty caiu e já foi eliminada. A mesmice de Alex Preston. A chatice de CJ Harris (que foi abraçado pelas chamas da eliminação, amém). A insônia que me causa por Dexter Roberts (outro que teve o mesmo fim). O medíocre Sam Woolf. Uma pena.

Ah, Sam Woolf. O privilegiado da produção. Podem falar que o Nigel tinha péssimo gosto para temas, e que ele sempre tentava dar destaque aos seus favoritos, mas nunca deu uma de Boninho (ou Silvio Santos, eu diria) e mudou regras do programa para tentar manter Sam Woolf a todo custo. Ele foi salvo pelos jurados com o voto unânime do Judges' Save - que já é uma regra repulsiva, embora tenha salvo a finalista Jessica Sanchez na 11ª temporada. Mas o ápice do absurdo veio no Top 5, quando Blankens cria um twist à lá Survivor/Big Brother e cria uma válvula de escape para salvar o candidato menos votado, que acabou sendo derrubada por Alex Preston e Jena Asciutto votando "NÃO" para o twist. E, assim, fazendo Sam ser eliminado.

Mas ainda há pontos absurdos. Há também o Randy Jackson. Se você achava que o Randy Jackson tinha ido de vez quando saiu do painel de jurados, se engana. Aliás, essa temporada meio que se resume a enganações. Até o playback da Jennifer Lopez naquela performance escrotíssima de "I Luh Ya Papi" era enganação. Randy Jackson nunca teve tanto tempo em tela como ele tem hoje. Graças aos deuses que existe o glorioso fast-foward pra adiantar todas as suas inserções.

Jennifer Lopez: "Mãe, tô na Globo! Não, pera"
Lembram daquele painel de jurados de química incrível do começo da temporada? Acabou depois das audições. Outra enganação. Harry e Jennifer praticamente olham para a câmera e suplicam, "olha, eu tô em rede nacional, me amem!!!". É praticamente ver o mesmo desespero de Cláudia Leitte no The Voice Brasil. É irritante e repulsivo.

Hoje, não são só os números medíocres em audiência que me afastam do programa, apesar de serem os piores índices em 12 anos de programa. São os motivos descritos acima, somados que hoje o programa não há maiores atrativos para mim. Jena Asciutto e Jessica Meuse continuam com performances sólidas, mas nem elas são capazes de me distanciar do adeus. Aliás, aposto um rim que Jessica deva ser eliminada no programa desta semana, não sei, talvez.

Apesar de tudo, agradeço sim ao Idol, pelos seus anos de glória, pelos seus artistas, por Kelly Clarkson, por Carrie Underwood, por Jennifer Hudson, por Haley Reinhart, por Allison Iraheta, por Adam Lambert e por tantos outros. Agradeço sim ao Idol pelos momentos de diversão, até quando Ellen DeGeneres fingia que era jurada gabaritada pra esse caralho. Agradeço mesmo nas vezes que tive que ouvir um winner single de merda escrito pela Kristy Lee Cook. Agradeço mesmo quando aqueles vídeo-clipes pra Ford enchiam o saco (e nesta temporada têm sido os poucos momentos de salvação, a que ponto chegamos!). Agradeço até quando rolava aquelas entrevistas nada naturais para o merchandising da Coca-Cola.

Tolerei demais até. Não dá mais. Adeus, Idol.

Sobre a coluna: a coluna Seri'ously! apresenta a opinião do autor sobre o mundo das séries.

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