Este texto contém alguns spoilers sobre a terceira temporada e os episódios exibidos até então. Considerem-se avisados.
Quando Scandal deixou de ser um guilty pleasure must-watch pra ser um drama policial/terrorista/assassino?
Quando Scandal deixou de ser um guilty pleasure must-watch pra ser um drama policial/terrorista/assassino?
Eu descobri Scandal faz muito pouco tempo, eu diria, mas isso não diminui o tamanho do meu amor pelo que eu nem sabia que existia. Assisti a primeira temporada em um dia, até porque, sete episódios é algo banal para quem acompanha séries frequentemente, como eu e talvez até você, caro leitor. Quando cheguei a segunda temporada, eu percebi uma coisa: em como Scandal estava se tornando a minha mais nova obsessão (até porque eu tinha acabado de perder a minha última - Fringe, ICYDK[1]).
A segunda temporada beira o ridículo de tão fantástica. A série se acerta e, mesmo que nos deixe muitas vezes a ver navios e ter que tolerar a relação doentia do Presidente Grant Fitzgerald III e Olivia Pope, tem momentos de tensão que põe no chinelo qualquer seriado policial por aí.
Só que, com a revelação do que era a B613 e quem estava por trás disso, Scandal acabou transformando a sua terceira temporada em algo muito maior do que apenas a resolução de casos semanais que tinham de consertar problemas de outras pessoas. E continua sendo excelente, uma das melhores e mais divertidas coisas da televisão americana na atualidade (certamente, a melhor coisa da TV aberta americana). O grande problema, no entanto, é o que está se tornando.
Desde quando Scandal deixou de ser a The West Wing meets Dallas pra se transformar em uma Alias? Desde quando Scandal deixou de ser política com sambadas na sua cara para ser, basicamente, um amontoado de plot twist atrás de plot twist que deu tanto plot twist que torceu o tornozelo?
Se tem uma coisa que Scandal sempre fez bem foi surpreender. Foi explodir seus miolos sem dó e muito menos piedade, porque Shonda Rhimes, ainda que uma vadia inescrupulosa e megalomaníaca, é uma vadia talentosa e usa seu descontrole ao nosso favor em produzir algo brilhante. E é aí que mora o real perigo: Scandal está se transformando em algo perturbador, e não no bom sentido.
Quando introduziram todo o plot da B613 por si só, com base na história do Huck era uma coisa. Mas daí inventaram de Quinn começar a se interessar no metodismo de ser uma serial killer patrocinada pela entidade. E daí tudo saiu do controle.
Quinn, aquela mesma moça que não conseguia nem ser considerada uma "Gladiadora em Terno" (ainda acho esse termo mais cafona do que uma música do Reginaldo Rossi - que RIP), se transformou em uma assassina descontrolada e que trai sua equipe, ainda sem saber, e fica quicando de lado da história como se fosse uma bolinha de ping-pong. Uma hora quer se reconciliar com Huck, depois vê que Huck não tão cedo a perdoará pelo que fez, e parte pra cama com Charlie - aquele mesmo assassino que é mais recorrente do que o relacionamento entre Fitz e Olivia.
Daí veio a história de que a B613 era a responsável por derrubar o avião (mais precisamente o então militar, Sr. Presidente dos Estados Unidos da América, Grant Fitz) em que Maya Pope estava e que um tripulante sobreviveu, só ficou mais do que óbvio sobre quem era este tal tripulante desde o princípio. Porém, os motivos de que ela estaria com posse de documentos que colocaria as operações da B613 em xeque fizeram a coisa ser mais louvável e, principalmente, verossímil e crível.
Só que tudo desanda quando a série transforma o pai de Olivia Pope em um anti-herói que quis proteger Olivia de um grande mal: saber que sua mãe era uma terrorista perigosa, a deixando crer na morte da mãe. Espera, você notou algo de similar por aí? Pois é, só faltou Sidney Bristow aparecer para o circo estar completo.
Scandal faz Alias e tudo indica que veremos que mamãe Pope não é esse monstro todo que todos estão desenhando, que no final o pai se transformará em um vilão ainda maior e que tudo isso nós já tínhamos visto (ou deveria, caso você não tenha visto) em Alias.
O problema não é seguir Alias, mas sim fazer mal-feito ou igual e ainda fugir da premissa e da proposta que consagrou o show. É claro que é cedo pra qualquer coisa, mas tudo se desenha para que Shonda entregue na season finale um episódio ainda mais insano e longe do que Scandal já foi um dia. Tia Shonda já se provou capaz quando nos entregou aquela brilhante segunda temporada, mas isso pode comprovar que a showrunner está sem culhões para criar uma narrativa diferente. Assim como ela já vem comprovando semanalmente com a decadência de Grey's Anatomy.
Espero de verdade que com a mudança de comando da B613 (que foi um twist louvável na nossa cara - o único, diga-se naquele midseason finale), haja algum plot twist perdido ali no meio que eu não tenha visto, mas, por enquanto, Scandal vai se encaminhando para ser essa coisa fora de controle e previsível - o que nunca tinha sido antes (ok, só às vezes, porque tem coisas que ficam na cara e não dá pra deixar passar batido e você acaba descobrindo antes da hora - história do pai da Olivia que os digam, i did see that coming).
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Antes de virar Teletubies e dar tchau, eu quero fazer uma reclamação: Dá pra alguém, em nome da vaca mais sagrada da Índia, parar com a relação de cú-e-rola de Olivia com o Fitz? Isso não é amor, é doença. E Mellie pra presidente! Bellamy Young está dando um show como primeira-dama. Favor indicá-la como Atriz Coadjuvante no próximo Emmy. Podem usar o episódio "Everything's Coming Up Mellie" (3x07) como Emmy Tape. É vitória na certa.
Mellie: "Sou diva até embaixo da chuva. Beijinho no ombro pro recalque passar longe" |
[1] - "in case you didn't know", em tradução, "em caso você não soubesse".
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