Dessa vez não dá pra reclamar, os velhos da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association, HFPA) não só viram TV, como também viram streamings e o método Netflix de reescrever a forma como TV é feita. E não dá pra reclamar de nenhuma categoria, de nenhuma nomeação e de nenhuma vitória - embora eu vá contestar algumas nos parágrafos seguintes (porque se eu não reclamar, não serei eu mesmo).
Sim, a cerimônia anual de entrega dos Globos de Ouro de 2014 foi uma cerimônia como qualquer outra da premiação, ainda que tivéssemos Amy Poehler e Tina Fey empenhadíssimas em suas passagens no palco como apresentadoras da cerimônia - arrancando boas risadas e traduzindo bem em palco o seus sucessos em Parks and Recreation e 30 Rock (ambas da NBC), respectivamente.
Neste texto extraordinário da coluna Seri'ously, não vamos trazer a lista dos vencedores ou coisa do tipo, porque isso você pode conferir clicando aqui, mas sim vamos abrir o sapo como em uma aula de anatomia e estudar o que vimos nesta premiação nas categorias relacionadas a televisão.
A coroação final de Breaking Bad
Era claro, justo e certo que Breaking Bad (AMC) merecia sair do hotel Beverly Hilton com todas as estatuetas de todas as categorias ao qual concorria e este era o momento final para isso, já que a série chegou ao seu fim de forma brilhante e gloriosa.
Aaron Paul: "yeah, bitches!" |
Os prêmios de Melhor Série Dramática e de Melhor Ator em Série Dramática para Bryan Cranston (pelo seu papel como Walter White) são meras cordialidades, porque isso era previsível e, finalmente, coroa a série como a melhor do gênero - ainda que a tivesse sido nomeada em 2013 e nunca ganhado (assim como Cranston, nomeado em 2011, 2012 e 2013, e também nunca havia ganhado).
Mas tudo seria lindo e incrivelmente perfeito se Aaron Paul também tivesse levado o seu prêmio de Melhor Ator Coadjuvante em Série de TV, Minissérie ou Filme para TV, e o seu "yeah, bitch" seria ainda mais perfeito. Mas não foi. O prêmio caiu no colo do experiente Jon Voight, pelo seu papel como Mickey Donovan em Ray Donovan (Showtime) e, embora ache que Aaron Paul merecesse mais o prêmio, não dá pra negar que Voight foi incrivelmente bem na série do Showtime e o prêmio esteja em boas mãos.
Quem é Brooklyn Nine-Nine na balada?
E essa seção deveria ser pra comentar a vitória de Jim Parsons, Julia Louis-Dreyfus e até mesmo Girls (HBO) / Modern Family (ABC) / The Big Bang Theory (CBS) (apesar de só a Julia Louis-Dreyfus merecer dentre estes), mas não, a HFPA sambou na cara da sociedade e entregou suas estatuetas a novatos e a nossa apresentadora sedução.
Amy Poehler um dia mereceu não só o Globo de Ouro, mas também o Emmy como Melhor Atriz em Série Cômica. Mas isso foi um dia. Não é mais assim. Parks and Recreation demorou tanto tempo pra ganhar crédito e Amy Poehler demorou tanto tempo pra ser louvada pela cerimônia que o prêmio veio atrasado. Pelo menos um ou dois anos atrasado, eu diria, no mínimo. Esse prêmio era da Julia Louis-Dreyfus por seu ano espetacular em Veep (HBO). E por que raios Veep não foi indicada? Deveria ter sido um sinal.
Agora, eu fiquei com vontade de abraçar a HFPA por sua ousadia de, finalmente, entender que Jim Parsons não merece mais ganhar nem brinde do McLanche Feliz. Que The Big Bang Theory tá longe de ser a melhor do gênero. Mas, ainda assim, fiquei chocado com o que aconteceu.
"Sambamos na cara da sociedade" |
Quem diria que uma série da Fox com seus pouco mais de 3 milhões de telespectadores daria um tapa na cara na sociedade desse jeito? Quem é Brooklyn Nine-Nine na balada mesmo, hein produção? A série não só levou o prêmio mais alto da categoria, Melhor Série Cômica, como também premiou Andy Samberg como Melhor Ator em Série Cômica. Eu cheguei a ver quatro episódios disso, os três primeiros eram sofríveis, o quarto era excelente. Se tinha material pra ganhar? Nunca, mas agora isso vai ter um buzz gigante, será exibida junto com New Girl no pós-Super Bowl XLVIII da Fox e espera-se que tenha uma alavancada na audiência - e nos seeders dos torrents, é claro.
A coroação de Behind the Candelabra
O filme de Steven Soderbergh pela HBO Films foi grandioso e uma homenagem lindíssima ao pianista Liberace. Tudo que o envolveu e tudo que foi feito foi brilhante. Ponto. Aliás, acho que aqui tinha uma briga interna, saber quem levaria o prêmio de Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV. Porque tanto Matt Damon, quanto Michael Douglas mereciam a estatueta. O prêmio ficou com Douglas. Merecidíssimo.
Aliás, Behind the Candelabra (HBO) também, merecidamente, embolsou o prêmio principal da categoria, Melhor Minissérie ou Filme para TV, revoltando gente que se acha entendida e que esperava que American Horror Story: Coven (FX) levaria algum prêmio. Uhum, vai sonhando. American Horror Story: Coven não tinha chances nem na categoria que mais merecia, com a Jessica Lange. Convenhamos.
Lange perdeu a estatueta de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV para a Elizabeth Moss, que deu um show e esbanjou talento em Top of the Lake (BBC Two). Moss já havia sido reconhecida com indicações por seu papel em Mad Men (AMC) inúmeras vezes, mas agora merece ainda mais o reconhecimento por um trabalho lindíssimo na terra da Rainha interpretando a Detetive Robin Griffin.
As mulheres da TV
Faltando falar de duas categorias ainda, ambas para atrizes, eu terei de já avisar que vocês irão ouvir reclamações. Pelo menos em uma delas. Seguiremos.
Jacqueline Bisset subiu no palco logo após Jennifer Lawrence para receber o prêmio por Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV. Com um dos melhores e mais emocionados discursos de aceitação da noite, eu não sei dizer se o feito da atriz de Dancing on the Edge (BBC Two) pode ser considerado, porque eu não entendo como a Hayden Panettone Panettiere (Nashville, ABC) pode ter sido indicada alguma coisa e essa categoria se levar a sério por isso. Com que jornalista da HFPA a Panettiere dormiu pra ganhar o slot? Aliás, Jacqueline é uma excelente atriz, mas, por que diabos Monica Potter não venceu? Absurdo.
Enfim, o prêmio mais disputado da noite no mundo das séries era, sem dúvidas, o de Melhor Atriz em Série Dramática. Qualquer uma das cinco indicadas - e quando eu digo qualquer uma, é qualquer uma mesmo - poderia sair vitoriosa, eu não estou mentindo. Kerry Washington, apesar de exagerada em diversos momentos em Scandal (ABC) é ótima. Julianna Mergullies como a boa esposa de The Good Wife (CBS) é ótima. Taylor Schilling interpretando a prisioneira Piper de Orange is the New Black (Netflix) é ótima.
Mas, pra mim, esse prêmio era de apenas duas: Robin Wright (House of Cards, Netflix) ou Tatiana Maslany (Orphan Black, BBC America/Space). E Robin Wright mereceu. Foi o único prêmio pra excelente House of Cards na noite e a série ainda merecia mais. O próximo ano será o ano de coroação da série de streaming como a melhor da categoria. Anotem aí. E House of Cards será essa série.
Porém, esse troféu era da Maslany por motivos técnicos. Ela deitou, rolou, sapateou e sambou na Sapucaí com sete, eu disse SETE, personagens diferentes. E todas excelentemente caracterizadas. E, o melhor: uma delas é britânica fingindo ser uma canadense quando a atriz é canadense e tinha que fingir ser uma britânica fingindo ser uma canadense. É por isso que Tatiana Maslany merecia o prêmio. Mas eu tenho fé que um dia menina Maslinda vai ser reconhecida. Eu tenho fé. Afinal, demorou quatro anos para reconhecerem a Toni Collette pelos seus 35 personagens de United States of Tara. Enquanto isso, esperemos pela próxima cerimônia qualquer.
~Os Grammys estão vindo e a cobertura completa vocês poderão acompanhar pelo nosso twitter, @floodadores~
"Eu sou a Tatiana Maslany, faço sete personagens diferentes e não ganhei, vou fazer a Helena pra tacar fogo na xana dessa HFPA #xatiada" |
Sobre a coluna: a coluna Seri'ously apresenta a opinião do autor sobre o mundo das séries.
Nenhum comentário :
Postar um comentário