quinta-feira, janeiro 09, 2014

Seri'ously #4 - Porque a S.H.I.E.L.D. não decolou como o esperado?

Explicações possíveis para (mais um) insucesso de audiência em um projeto do Joss Whedon.

Antes de qualquer coisa, eu sou fã de Joss Whedon. Whedon deu uma das melhores séries sci-fi de todos os tempos e, inconformado pelo cancelamento, ainda nos deu um filme de presente. Firefly e Serenity são o trabalho de Whedon que eu mais admiro - sim, porque a combinação Firefly/Serenity é muito melhor do que Os Vingadores (embora eu goste muito de Buffy).

Apesar de Firefly/Serenity (2002/2005) serem utilizadas aqui como referências, que fique claro que não foi apenas ali que Whedon usou de suas artimanhas para cativar o público. Anos antes, na série da então moça Sarah Michelle Gellar (1997-2003, ou antes ainda, em 1992, no filme homônimo que deu origem a série, com a Kristy Swanson), vimos o sucesso que consagraria Whedon no universo nerd quase 20 anos depois, com Marvel's The Avengers (2012), sendo utilizados com maestria.

Os momentos de ação, com desenvolvimento de personagens e a utilização da cretinice básica são a marca do autor.

Mas se isso é sinônimo de sucesso, vide Buffy, the Vampire Slayer, que ganhou até spinoff - Angel (1999-2004) -, por que Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D., formada pela mesma equipe que trabalhou com Whedon em Dollhouse (2009-2010), sofre tanto para encontrar o tom e cativar a audiência? Por que a série teve uma queda de audiência maior do que a queda de qualidade em Grey's Anatomy (desculpa, eu precisava falar mal da Shonda Rhimes... de novo)?

Ninguém aqui é Mãe Diná suficiente pra encontrar respostas para tudo, apesar de todo mundo ter criado um hype gigante antes da estreia, entretanto, vamos listar algumas coisinhas que podem estar, ou não, colaborando para o insucesso do projeto liderado por Whedon.

4) Caracterização e desenvolvimento dos personagens
Esse é um tema delicado pra qualquer série que se preze. Eu, por exemplo, tive diversos problemas com The Walking Dead e este era o mais grave: as pessoas morriam e eu não dava a mínima. Larguei a série lá pela primeira temporada e não tenho vontade nenhuma, ainda que as pessoas sejam só elogios para o período recente da série, de querer retomar de onde eu parei.

Skye e o drama "quero mamãe"
Aparentemente, muitas pessoas tem tido o mesmo problema com S.H.I.E.L.D. que eu tive com The Walking Dead. A falta de conexão com os personagens. Eu confesso que, tirando Coulson e Fitz-Simmons, eu não me simpatizo nem um pouco com os outros personagens da série.

A história de Skye, por exemplo, é tão vazia e tão pequena no mundo que a própria S.H.I.E.L.D. criou que não faz sentido, hipoteticamente, a vermos ficar choramingando pelos cantos sobre quem são seus pais. Bitch, please. Se for Melinda May a mãe de Skye como tudo indica ser, eu abandono S.H.I.E.L.D. na hora. E tenho dito.

3) Eles estão mesmo salvando o mundo?
Toda semana parece que surge um novo inimigo poderosíssimo que pode destruir o mundo. Mas parece mesmo que eles estão salvando o mundo? Não, os inimigos e suas histórias parecem tão pequenos dentro do próprio universo criado pela série que tudo é tão ínfimo e segue repetitivo e cansativo ainda mesmo em seu primeiro ano.

Aliás, esse é um tema sobre o caso-da-semana e o fator procedural do show. Eu não vou entrar no desmérito, por ora, porque grandes programas seguiram essa fórmula em seu primeiro ano (alguém gritou Fringe aí no fundo?), mas sempre alimentaram a história central. E é aí que entramos no, talvez, maior problema de todos.

2) A falta de uma storyline forte
Desde o primeiro episódio, S.H.I.E.L.D. mostrava que seria uma série de ação, procedural, com muitos efeitos especiais, explosões, elementos 3D (os equipamentos de Fitz-Simmons que os digam) e um amontoado de conteúdo tecnológico que qualquer série sci-fi invejaria, mas cadê a história? Cadê o real inimigo?

Garota do Vestido Florido: "sou importante,
mas ninguém se lembra de mim
"
Se você colocar na balança, apenas três dos dez episódios então exibidos por Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. tiveram conteúdo sobre um inimigo real. Um inimigo recorrente que queremos ver toda semana. Você pode fugir pra casos-de-semana mais isolados, mas não como a série tem feito. Se somar todos os episódios, quantas referências à Garota do Vestido Florido encontramos? Quantas referências a Centopeia encontramos? Três, cada, no máximo? E foram dez episódios. Sim, é muito pouco até mesmo pra uma série procedural. Até séries como Hawaii Five-0, NCIS e CSI tem um aproveitamento de referências aos arcos centrais maiores do que isso.

Apesar dos grandes problemas de Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D., o episódio "The Bidge" (1x10) parece ter colocado a série nos eixos neste sentido. A Centopeia está de volta, Coulson foi raptado e a história, aparentemente, será bem desenvolvida de agora em diante. Como eu disse, aparentemente. Tudo indica a isso.

E eu vou ser um pouco mais otimista aqui, vou pensar no futuro. Ainda dá pra consertar a falta de conexão entre os casos-da-semana com o arco central. Basta aprenderem um pouquinho com Russell T. Davies (Doctor Who, 2005-2010). Amarrá-los de uma forma que pareça orgânica e natural onde tudo que aconteceu tenha sido por influência dos caras envolvidos com a Garota do Vestido Florido. Vamos rezar pra isso.

1) A culpa é da Marvel
E agora eu vou comprar briga com um fandom gigante. Sim, a culpa é da Marvel. E a culpa é da Marvel por obrigar os estúdios ABC/Disney a um aprisionamento criativo que faz com que a série não possa infringir os limites estabelecidos pela entidade. Sim, o tão aclamado universo cinematográfico criado pela Marvel interfere, diretamente, no desenvolvimento de Agents of S.H.I.E.L.D..

Imagine você na posição de roteirista dessa série: você tem um universo gigantesco, que vai de alienígenas/deuses de planetas distantes à super-heróis tecnológicos bilionários e não poder usar nem uma lasquinha disso. Ou usar o mínimo, como foi aproveitado de Thor 2: O Mundo Sombrio. Mas ainda assim não poder, sequer, utilizar os heróis B da empresa porque eles podem estar com planos envolvidos para o cinema, afinal, a Marvel parece ter descoberto a fórmula do sucesso para a tela grande. Ou não poder usar vilões consagrados porque eles têm planos de serem utilizados em um filme em, sei lá, 2028.

Sim, a Marvel aprisiona a liberdade criativa da série. E esse é o ponto em que, pra mim, Arrow ganha (e vamos lá para comparações impróprias, mas que eu vou colocar assim mesmo). A DC Comics não delimita o universo da série da CW. Assim como os estúdios Warner tem total liberdade para usar vilões de Batman, por exemplo, na série sobre Oliver Quinn, o Arqueiro Verde, nós não temos essa liberdade em S.H.I.E.L.D.. Se a Marvel fosse mais liberal como a DC é, talvez S.H.I.E.L.D. pudesse ter mais liberdade e explorar melhor o terreno, mas isso está muito longe de ser uma possibilidade real. E como não podemos contar com isso, vamos confiar em Joss Whedon. Ele acertou em quase tudo que fez, então, sim, in Joss we trust. Ou enquanto durar o nosso estoque de paciência.

Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. retorna com episódio inédito hoje, às 21h (horário de Brasília), no Canal Sony.

Sobre a coluna: a coluna Seri'ously apresenta a opinião do autor a respeito do mundo das séries.

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